Minerva Schools at KGI: ambição de revolucionar a educação
Minerva Schools at KGI: ambição de revolucionar a educação
Durante o curso, os alunos moram em sete cidades globais: São Francisco, Berlim, Buenos Aires, Hyderabad, Seoul, Taipei e Londres. O objetivo é usar as próprias cidades como campus
Esta coluna é para falar de “Escolas de Negócios pelo Mundo” e, embora tenha falado até agora de cursos de MBA principalmente, conheci esta faculdade, que não tem um MBA, mas tem um curso de graduação espetacular e inovador, e tem também mestrados (vale dizer que os mestrados têm estrutura bem diferente dos cursos de graduação). É uma universidade com cara de startup: a Minerva Schools at KGI.
Neste texto vou me concentrar nos cursos de graduação e, mesmo que esse não seja seu foco, acho que deveria ler para estar conectado com o que vem por aí em educação e, quem sabe, indicar para um sobrinho, pensar para seu filho.
Visitei o escritório da faculdade em São Francisco e vi que o seu modelo de educação é completamente diferente de tudo que existe no mundo atualmente, inclusive nos EUA. Digo que visitei o escritório pois a universidade não tem um campus, aulas em enormes auditórios e nem grandes programas esportivos.
E o seu grande diferencial é único. Durante o curso, seus alunos moram em sete cidades globais: São Francisco, Berlim, Buenos Aires, Hyderabad, Seoul, Taipei e Londres.
O objetivo é usar as próprias cidades como campi. Assim, os alunos se tornam cidadãos globais, prontos para resolver as questões do mundo em que vivemos hoje.
Como isso tudo começou?
O projeto foi fundado pelo empreendedor e visionário Ben Nelson, em 2011. Ao seu lado estava Stephen Kosslyn, ex-diretor do Centro de Estudos Avançados em Ciências Comportamentais da Universidade de Stanford e com uma experiência de 30 anos na Universidade de Harvard, onde foi reitor de Ciências Sociais.
Já em 2012, o negócio recebeu um aporte de investimento de US$ 25 milhões do Benchmark Capital, mesmos investidores do Uber, do Instagram, do Twitter, do Ebay, do Snapchat e da Dropbox. Isso já diz muita coisa, certo?
A primeira turma foi admitida em 2014 e se formou agora, em 2019.
Mas como funciona?
O foco é simples, diz Robin Goldberg, a “Chief Experience Officer” da Minerva. A escola traz um novo modelo de currículo para a graduação, imersão em experiências interculturais, e tecnologia de ponta, para oferecer aos alunos a oportunidade de resolver desafios complexos, desenvolver pensamento criativo e crítico, além de comunicação efetiva.
A Minerva tem como ambição transformar a educação superior. Não é à toa que o escritório principal (esqueça as convencionais salas de aula e bibliotecas) está localizado no epicentro da inovação tecnológica mundial.
Sem dúvidas, é uma das universidades mais inovadoras que visitei nos últimos tempos. Seus programas de graduação são muito fora da caixa, em cinco áreas de interesse: artes e humanidades, ciências computacionais (essa grande área envolve matemática, ciência da computação, ciência de dados, entre outras), ciências naturais, ciências sociais e negócios.
Todos os cursos têm duração de 4 anos e durante o primeiro deles, todos os alunos passam pelas mesmas aulas, em São Francisco. As matérias do primeiro ano são focadas no desenvolvimento de competências e habilidades fundamentais, como raciocínio crítico, criatividade, comunicação e interação efetivas, um dos diferenciais do currículo da universidade. Basicamente, são conteúdos de que todos precisam.
A partir do segundo ano, as matérias específicas e as viagens começam. Cada semestre acontece em um país diferente. Isso significa que de 6 em 6 meses, todos os alunos se mudam juntos para a próxima cidade da lista. Eles viajam juntos e também moram no mesmo prédio.
As aulas são todas online, o que acho geralmente uma desvantagem nos modelos tradicionais, pois as pessoas perdem o fator convivência/ networking/ amizades, mas apesar disso, esses fatores não são prejudicados, já que o contato entre os estudantes é muito intenso.
Além de dividirem a moradia, eles precisam entregar projetos em conjunto. Esses projetos são práticos e realizados em parceria com instituições locais, como empresas e governo. Geralmente, são ligados às necessidade sociais e de desenvolvimento da cidade em que estão vivendo e substituem o modelo tradicional de provas.
Pode parecer surpreendente mas o custo anual da Minerva é de US$ 30.950,00 (bem abaixo do custo de uma universidade tradicional). Isso já com a residência inclusa, em todos os países.
E ainda tem outra boa notícia: aproximadamente 80% dos alunos recebem algum tipo de bolsa de estudos — de estágios remunerados na própria Minerva a bolsas integrais —, e também existem empréstimos estudantis que podem ser um “auxílio financeiro”.
Admissões
A Minerva tem o seu próprio processo de admissão, completamente online. A universidade diz que ele “se baseia inteiramente no seu próprio mérito, concentrando-se em quem você é, em como você pensa e o que você alcançou”.
Juliana Casadei — Outreach Manager da Minerva — representa a universidade no Brasil. Ela é responsável pelo contato com alunos e suas famílias, escolas e parceiros locais e atua como facilitadora durante todo o processo do application, oferecendo apoio com informações sobre o programa e processo seletivo.
Não há taxas para aplicação e testes como o SAT e o ACT (similares ao ENEM, no Brasil) não são pré-requisitos.
Conversei com o Diretor de Program Success, Rudy Rubio, e ele destacou 3 momentos principais do processo de seleção:
1. Perfil — Quem é você? Quais são as suas notas?
2. Desafios — exames de matemática, de lógica, quebra-cabeças, cases para resolução de problemas;
3. Conquistas — quais impactos você gerou até hoje?
Entre as características que procuram, Rudy apontou “o foco em solução, a capacidade de tomada de decisão, de lidar com grandes desafios, e a adaptabilidade para se tornar um cidadão global”, como pontos importantes.
Para conferir mais informações sobre o processo de Admissões, confira a página do site oficial.
O que quem está lá pensa?
A brasileira Nathalia Bertolo Silva faz parte da turma de 2021. Entrou na Minerva em 2017, no curso de Ciências Sociais, mas transferiu para Ciências Computacionais. Ela compartilhou comigo como vem sendo a sua experiência na Universidade.
Durante o primeiro ano, suas aulas aconteciam de segunda a quinta, das 9h às 12h30: “As aulas são todas de discussão e exigem muito estudo prévio. Se você não estiver preparada, leva falta!”.
Segundo ela, os debates são complexos: “Como acabar com a fome no mundo?”, “É possível evitar as guerras?”, são alguns exemplos. Além disso, a exigência com trabalhos extraclasse é bem grande.
Sobre a experiência de viajar pelo mundo ao lado dos companheiros de classe, Natália diz que acabam virando uma família: “Turma tem um significado muito específico aqui. A gente estuda junto, mora junto, se muda junto…”
Para ela, “a Minerva é provavelmente a melhor para muitos estilos de pessoas.”
E como disse Robin Goldberg, a escola tem seu foco em ajudar os alunos a desenvolver competências essenciais (como já citado, pensamento crítico, pensamento criativo, comunicação efetiva e interações efetivas) de modo a preparar esses alunos para várias carreiras, muitas das quais ainda nem existem.
*Fernanda Lopes de Macedo Thees fundou a Loite em 2007, onde trabalha com desenvolvimento de profissionais principalmente através do Coaching e MBA Prep. Mora em São Paulo, mas adora viajar, seja para Juiz de Fora para ver a família e amigos, ou pelo mundo